Reportagem do Lance esteve no local da obra para ouvir opiniões de moradores, trabalhadores e especialistas sobre a estrutura – que está perto de ser inaugurada
A primeira parte da obra da passarela que contorna o Costão das Vieiras, em Porto Belo, está quase concluída – depende, apenas, da maré para que os trabalhadores consigam firmar os últimos 4 metros da estrutura. No entanto, antes mesmo da inauguração, a nova atração turística divide opiniões de moradores, turistas, ecólogos e até mesmo dos próprios trabalhadores responsáveis.
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Isso porque os nativos da região, moradores que possuem casas ligadas ao oceano, entendem que os impactos gerados pela construção podem prejudicar diretamente o delicado ecossistema costeiro da área – que comporta rochedos e mangues e uma delicada teia trófica de diferentes plantas e animais.
Um deles, Luis Augusto Bayer, que mora a vida toda defronte ao mar do costão, afirma que a estrutura é redundante – uma vez que já existe um caminho que contorna a área. Ainda, se preocupa com o dano paisagístico gerado por ela.
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Primeira etapa da obra está a detalhes de ser finalizada. Foto: Bruno Gallas
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Em alguns espaços, pedestres já podem transitar sobre a estrutura.. Foto: Bruno Gallas
“Para prosseguir os trabalhos, tiveram que desgalhar as árvores e cortar as babosas ali nas pedras. Começa por aí. Depois, toda a paisagem que crescemos observando agora não vai mais existir”, disse.
Fabiane Tavares, que também mora a vida toda na região, menciona o caráter pacífico do local como porto seguro para animais marinhos.
“Tem um leão marinho que volta e meia está ali no costão. Mas agora, cheio de gente, com barulho, ele não volta mais”.
Leão-marinho que periodicamente dá o ar da graça no Costão. Foto: Fabiane Tavares.
A opinião é partilhada pelo ecólogo e professor aposentado da FURG, Lauro Bacca, que esteve junto à reportagem no local para ouvir os moradores.
Segundo Bacca, a obra representa o “mais do mesmo” no litoral catarinense – copiando modelos de outras cidades sem levar em conta as próprias particularidades.
“Acredito que a intenção da Prefeitura é boa, de propiciar ao visitante o deleite de paisagens únicas, realmente belíssimas. Só que a própria obra contribui para impactar esta paisagem. Aquilo que se quer permitir que as pessoas vejam, está ocultando aquilo que se quer mostrar”, diz.
Lauro Bacca, professor aposentado da FURG e Ecólogo. Foto: Bruno Gallas
Ainda de acordo com o professor, o impacto ambiental também existe – dada a particularidade do ecossistema do costão.
“Fará um sombreamento que antes não existia. A zona entre marés tem aproximadamente 1 ou 2 metros de altura, em que ecologicamente as diferenças entre os sistemas na parte mais baixa e na parte mais alta é equivalente a uma montanha de mil metros de altura. Temos as conchas, vieiras, o zoneamento de algas, moluscos, crustáceos. Tudo isso está sendo atropelado. Passarela, nada contra, mas atropelar a passarela, sim.”, continua.
Outro lado
Outros moradores acreditam que a obra tem potencial para apaziguar danos à natureza a partir do momento em que trilhas menores, por onde hoje o trajeto é feito, deixariam de receber tanto fluxo de gente. É o caso de Odnei Simonetti, natural de São Paulo, mas cuja destreza ao pular pelas pedras demonstra anos de vivência na região.
“Com certeza vai ter menos gente indo fumar [maconha], fazendo churrasco, enchendo a cara e deixando tudo jogado no chão. Acho que essa obra é muito positiva se tiver controle e fiscalização. Nem tudo é perfeito, mas acredito que vai ser, sim, positivo”.
Caminho atravessa garagens de algumas residências à beira-mar. Foto: Bruno Gallas.
A Prefeitura de Porto Belo afirma, por meio de assessoria de imprensa que a obra não é voltada apenas ao turismo, mas ao lazer dos moradores da cidade, que “passariam a ter um contato maior com a natureza naquele ponto, que infelizmente antes era usado apenas por alguns”.
“Trata-se de um projeto adequado, feito de acordo com as normas legais. Esta obra não integra a listagem de atividades consideradas potencialmente causadoras de degradação ambiental, conforme Res. CONSEMA N 099/2017, portanto não é sujeita ao licenciamento ambiental. Toda esta comprovação já foi encaminhada aos órgãos competentes, como o Ministério Público”, continua a nota.
“Esta é uma obra anunciada e aguardada há anos pela comunidade de forma geral. No local existem casas que antes utilizavam a praia como uma praia privada e a partir de agora, o local se torna verdadeiramente público”, finaliza.
Estima-se que a totalidade da obra, ligando a Rua das Vieiras ao Perequê, ficará pronta no início de 2025.
*por Bruno Gallas, repórter